o que as rosas têm a dizer

O espirro descadeirado
de estar na solidão entre as estrelas.
O som da lesma na fúria ideal dos matagais.
O sussurro no meio da noite quente
entre cães que ladram
e a indefinição de uma grade sobrenatural.
As luzes vermelhas, no alto dos edifícios,
dos bairros vizinhos
e as rabiolas das pipas
iluminadas, presas aos fios
dos postes de eletricidade.
Uma gota inesperada que cai
e assusta. Tão
solitária
quanto eu na madrugada da cidade.
Um chinelo que ecoa sua voz
disfarçando o tombo discreto.
Jimi Hendrix tinha razão:
as nuvens roxas sorriem
entre os limites de um céu de porcelana
e as dúvidas terrenas
de um chão que se renova por séculos.
O clima fresco da escuridão
envolve a língua que reproduz o mundo.
É noite na abóbada sem fim!
Solitária, sem mim, a rua é apenas o esperar.
Quem diria que a madrugada poderia ser isso?
Uma pincelada transparente nas dobras do som,
uma evocação lúcida nas formas das flores,
um distúrbio violento na textura do silêncio.
De um traço latifoliado
aguardo meu sono como vulto que me cerca,
mas que não me penetra
para o rebento de um novo clarão.
Não há ansiedade. A calma me contempla
feito personagem de minha espera.
Odes às distancias da imaginação,
para que o suspiro das sombras
reelejam o último sol no fim do corredor,
que é resposta para este momento de espera.

São Paulo, 08 de janeiro de 2005

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