o nylon e a carne

Um som quente e triste salta do nylon...
Rompe o ar
todo distraído de si,
com seus átomos dispersos, desorientados...

Uma nota solitária,
resinosa,
quase interminável,
irriga o ambiente de uma assonância
singular,
contagiando ouvidos desavisados, precipitados...

Melodiosa cena de se ver...
Tão calma e tão serena...
Toda embebida de ternura,
de cheiro de criança recém-nascida.

Alça vôo incandescente
em rio subterrâneo de indivíduo
que pulsa febril,
o toque dos dedos convictos.

Uma maestria eloqüente e transformadora
guia o confim das sensações...
O gesto é quase o mesmo de outrem...
É de mecânica diferenciada...
É quente...terna...quase maleável...

Instrumento e instrumentista:
almas gêmeas que se complementam
a fim de elevar em sublimação contagiante,
os sons que inundam o hiato do silêncio inquietante.

São Paulo, junho de 2003

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