bretonianas pereirenses

para Rodrigo(Giba), Nor, Savóia e Cátia

I - se
Se o chão andasse sempre, as nuvens cresceriam no céu.
Se as cortinas de vento choram, nós rimos de alegria.

Se a pepinagem louvar, moscas salpicam o sol.
Se o túmulo destrói, fode o esquema.

Se o paralelepípedo invadisse, não seríamos animais.
Se nós voássemos, o portão se abriria.

Se a janela abrir, volte outrora para baixo.
Se vai agora para cima, esboça um sorriso

Se as borboletas levitassem, todas as folhas nasceriam.
Se o xadrez voasse, morreria cedo.

Se cai a flor na terra, além foi preso.
Quando morreu Matus, morreu para nascer novamente.

Se a bunda deixar sair, espero não estar bêbado.
Se fodesse para todo mundo, seria so good.

Se os guarda sóis fossem verdes, seria pior o céu.
Se fosse melhor o mundo, o chão giraria.

Se via o cego no escuro, morria assim mesmo.
Se a vida andasse para trás, com luz também seria cego.

Se consciência existir, a nuvem cresce.
Se as flores chorassem, não haveria intolerância.

II - Duetos Impares
Cerveja amarela sua na estrela escaldante.
Flor gelada morreu de calor brilhante.

Árvore ardida tem amor ruim.
Suor bom extrai cor colorida.

Caralho líquido tem toalha ruim.
Imagens brancas escorrem pelo lábio vermelho.

Cátia ébria será vinho lindo.
Cabeça maravilhosa suaviza mesa quente.

Calça dura aperta humano pelado.
Ferro amarelo lava bunda demasiada.

Cabelo redondo mata calmante sujo.
Cabeça branca extrapola roupa natural.

Pé lindo come flor fedida.
Laço fedido será senhora bela.

Cigarros macios conversam nas pedras azuis.
Pedra velha viu tigela macia.

Pia grande pintou ser preto.
Cabelo pinga deve parede limpa.

Música esbelta pulou mundo belo.
Dedo reto alegra anjo cão.

III - dúvidas cruéis, repostas sonoras
Por que os corpos deitam no sofá?
Porque os elefantes cospem estrelas.
Por que sofremos?
Porque as hélices circulam os ares, penduradas em paredes laterais e sem gravidade.

Por que não entendem?
Porque to nem ai!
Por que vai longe?
Porque o azul solar ainda é imperceptível à umidade da vida oculta.

Por que a cor disso tudo?
Porque estão a fim de exercitar.
Por que os chacos da Concórdia?
Porque a cor é líquida para fluir o beija-flor de vida esvoaçante que tinge o mar enluarado de areia granulada.


Por que você enxerga a vida lá na ponta do mundo?
Porque se fosse verde, seria grama.
Por que cogumelos são azuis?
Sim, claro... e quem não enxerga a viela iluminada do quarto?

Por que perguntar?
Porque as cortinas dançam.
Por que há luz?
Loucura.

Por que choramos?
Porque sentamos a ver navios.
Onde esta o louco cavaleiro?
Porque as cigarras chutam o balde de lama.

Por que porque?
Porque eu to.
Por que ocre vai?
Porque as linhas fazem curvas na lousa de detalhes em madeira.

Onde vem-se as mortaguas?
No cogumelo.
Onde as merdas nascem?
Onde os sois se alinham.

Por que decidimos por isso?
Quando, onde?
Foi agora?
Para fins de absorção astrológica.

Qual é neguinho?
Superar o limite da discórdia.
Viajas porque?
Qual e?

IV - Ser ou não Ser?
Sou uma VACA amarela de pensamentos flutuantes que caminha pelas nuvens coloridas, mas sou também uma RAIZ que se enfia nas entranhas da terra para sugar seu néctar.
Posso ser a LINHA que arranca os dentes das crianças ou que separa os meridianos de uma lua transviada, mas na realidade sou um GIRASSOL sem chinelos no espaço de um chão virtuoso, pueril e solitário, alem de fértil.

ENTENDE o que eu digo? Quando falo, tenho tremedeira nas pernas, penso em opulências cósmicas e quero SENTIR o mundo de todo mundo com energia e intensidade absurda alastrando esse absurdo sentir de quintas justas. Constancia.
Sou o ENTENDIMENTO guardião das promessas iluminadas pelos ursos comedores de amoras, porem alguém já contou? O ANTIGO me toca tão profundamente quanto a água que inunda seu ser. Sentiu?

Tenho a ASA, tenho asas, sou todo asas. Me devoro e me tenho na noia. Sou a GRAMA, quase um grama, mais leve vôo. Acordo com dor, to duro, to morto, sento, caio, meu corpo passa pela minha cabeça. Não, tudo errado.
O SABOR da ilusão pesa sujo na escoria repentina de um caminho estúpido e oculto que disca sempre pra você, tão insistentemente, mas como um bom BAQUELITE sôo à sua carne o toque seco do que já não e possível explicar, por sua relatividade etérea.

Sou as ESTRELAS dos quartos tristes numa noite de chuva de sangue quente e macio, mas consigo ser a parede DOS LADOS da encosta da terra onde os jacarés dançam bale em volta da fogueira.
Sou um SORRISO que corre atrás das portas análogas a si mesmas para saber o que é oculto. O que há na base do céu? Um CAJADO, eu mesmo, um cavalo alado e uma donzela nesta de amor perfeito.

Eu sou os SEIOS das energias extremas, mas também consigo MATAR uma formiga com um pe descalço.
Sou o SILÊNCIO que mata por dentro e devagar vai levando a morte, mas a minha pequenez de ser LUZ não vai além de ser o simples silêncio que se esconde dentro de mim num canto escuro.

Dentro em mim BRILHOU. Brilhei em ser em mim e quando acordei da ofuscação do brilho, tal qual um CATA-VENTO, eu girava ao redor de mim mesmo... vomitei.
Passei noites dormindo no chão, eu fui, sou e serei o próprio PAPELÃO velho que cobria a mim mesmo e no auge do sonho me via GIRANDO em volta da fonte sentindo frio numa tremenda aflição.

As vezes o céu se DIVIDE nos meus olhos e muda sem parar, muda de lugar, nasce uma flor, muda a estação. Nessa loucura toda mudando tudo, tudo muda sem parar. Agora é VERDE de tão limão meu céu. E eu vou... cuspir.

Fiz de meus braços SANGRIA, misturei com o vento e bebi minha própria essência. Me fiz LOUCURA então. Voei com o vento, ventania. Me fiz , morri torto mesmo no desalento.

Sou METAL intranqüilo que resvala o lodo dos dias, porém posso ser FUGAZ como os dias de uma Pereiras que se foi.

Sou a FLOR que come os insetos da noite enluarada de fibras azuis em volta de árvores cumpridas num zumbido estridente, mas sou também a DISTÂNCIA de um pensamento a outro de uma girafa saltitante do oeste da costa de um elefante indiano.

Uma mesa sorriu em Pereiras. Janeiro de 2004

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