doce traição

Ao raiar da escuridão notúrnica,
ermos cintilantes estão à toda a prova.

Tantos solilóquios
quanto forem necessários
submergem verbos amiúde na cancela.

Pêlos que se exaltam em silêncio
de uma força motriz que retém a luz quântica.

A escolha sonora em Ré menor.
Os livros apoiando-se enfileirados.

Quando minhas pálpebras apagam as luzes
e quase tudo é respiração,
gotejam alforriadas as águas do refrigerador.

Não há estrelas empoeiradas.
E saber que há rios e mares por aí.

E saber que há tempos
meu travesseiro tem sido Fernando Pessoa,
mas minha cabeça anda pensando em Borges.

Doce traição de minhas substâncias cranianas.

Conchas, 27 de julho de 2004

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