convem que...

Convém que se fira à espada
os olhares de medusa asceta.
No cume de meus ombros,
a margem direita,
sempre a mesma conversa fiada.

Convém que se infrinja as leis
dos dizeres
para que o sangue das palavras
lave o portal da estupidez,
como quando da bravura do mar,
a base da praia,
tudo se torna umidade para os pés
e resquício de espuma que eclode ao vento,
sem força,
nem gosto.

Convém que os afazeres violados excedam,
transbordem feito vulcão
que espirra novos relevos,
novos rebentos.

Convém a lágrima de iodo
que corrói em brasa a vitalidade de aparências,
apenas aparências,
de alguns sentidos ocos.

Convém que se elimine
a minha e a sua certeza
de que absolutamente tudo seja ilusão.

Convém ainda
que tudo exista,
pois o que seria de nós
sem o auto-engano?

Tenho febre...

São Paulo, 29 de abril de 2004

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