existências não caem do céu

De todas as verdades,
a que posso crer com mais veemência
é a mentira de estar
vendo o mundo em seu lugar torto.

As flores gracejam atiçando seus perfis ao ar,
sorrindo para um lado qualquer.
Se tal gracejo foi captado... ótimo...
se não... continuam gracejando
sem saber que o fazem.
Não há latido ou ruído
que dará cabo ao seu movimento.
São felizes por simplesmente
SEREM...
EXISTIREM sob essas condições frágeis,
presas a terra
e
simplesmente gracejarem.
Se, porventura,
por uma natureza qualquer,
chover, fizer frio ou o sol esturricar...
continuarão como sendas flutuantes
até o último resquício de ser flor,
estando ou não ao lado do luar ou do cimento
à base do chão.
Há muitos segredos em um jardim.
Poderíamos explicar a vida
através de um jardim e nada mais...
O inseto que tateia o esqueleto das plantas
nem sabe porque assim o age.
É como a flor...
simplesmente existe em seu passo
apressado, ligeiro e desnorteado.
Os caules sustentam o peso das folhas
e apóiam-se na terra,
enquanto a Terra
gira, gira, gira...
Baratas morrem
depois de um tempo de vida,
de patas para o ar e sem nenhuma moral.
Formigas enfileiradas, como no cinema,
jazem o defunto
articulado em tantas patas
e osteoporoses atômicas, lacunas mortas.
Tão felizes
quanto as asas trepidantes
dos sabiás ainda vivos,
com suas temporas vermelhas
de sangue fluindo por entre seus olhos redondos.

Toda a verdade é irreal.
Lisa feito pedras e limbos.
Toda verdade é o fato de em nada crer,
na tênue manha ou noite adentro.

São Paulo, 16 de abril de 2004

Um comentário:

Yoga Café disse...

Gostei desse hein!Verdes verdades...rsrsrs