momentos de lucidez garantida em um Picasso literário

I – quarto
Cercas de mármore definem setas furadas em seus tocos frustrados. O velho desenho resiste de ponta cabeça feito um flanco esverdeado na roseira da minha calma seresta. Velho mensageiro perfura a imagem gritante de um bambu alucinado. Viva os livros em que Ets se fazem presentes. São cancelas laborais de verdade escarnada na manga presa aos botões ondulantes, feito unhas de borracha sintética no concreto quadriculado. O aparelho sonoro não pode se recordar dos momentos de inocência quando tudo o que acontecia era branco e completo. Hoje, de agulha colada, arranha as soldas plásticas de um cérebro mais desenvolvido, porém cansado de novidades conhecidas. Cabelos feito escravidão acinzentada remexem as infinitas exclamações existentes em olhos humanos. O verde da flor remonta à cachoeira imersa que alimenta os quatro sóis sobrepostos há tempos. Muitas fases num mesmo ambiente selado. Mundo sem fim, sem nexo, mundo indiscutível, mundo cansativo e sem explicação. Desisto.

II – frontispício de pedra na asa lateral de um tombo
Cabeça de monstro mitológico africano curva-se em livro engenhoso, caçando pedras com os braços de galhos retorcidos. Um fogaréu, um ombro nu, um lago em lodo, cabelos eriçados para trás, feito moda de espaço. Seria uma pomba ou uma flecha grossa, tridimensional e mais próxima do que o todo?

III – ameaça
Saiu em todos os jornais molhados com sangue de gado sacrificado para o bem da humanidade cheia de dentes, enzimas, além de preconceitos: poesia surrealista corre o risco de ser mal interpretada.

São Paulo, 26 de abril de 2004

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