poesia ao pé do anoitecer

I - raízes na noite
Poesia ao pé do anoitecer,
dos semblantes faciais das raízes
submersas e firmes.
São pontes, cobras ásperas, nervos ocres...
Garantem vidas, movimentos, verdes tons, apoios
aos pássaros sonolentos.
Fios em dobras,
cascas sugam, delicada e discretamente,
a seiva imperceptível
de toda a energia intraduzível.
Curvas sinuosas, dobras quebradiças,
lares, escaladas,
brincadeiras sob gramas.
Nada esperam, além de existir.

II – mistério na noite
Já não há o que dizer da lua.
Palavras cansam...
Resta olhá-la crescente,
enevoada, sempre sorrindo para o céu.
Resta olhá-la mansa,
crua, iluminada feito guia,
pontiaguda
feito anzol que fere os seres pelos olhos.

Mistério por detrás das nuvens.
Mistério por detrás de si.
Mistério por detrás do além luar, como sempre há de ser
em nosso resquício de existência.

Lua, navegue
minha mente de olhos fechados,
rubrica minhas ligeiras impressões.
Nada sei perante ti...
...a não ser que és bela
e sedutora de meus fatos e caminhares.
No mais, mistério...

III – céu na noite
A vida e tão próxima
e o céu é aqui diante de meus óculos.
Sem começo,
nem fim, sem cor definida,
sem timbre, sem tom.
Sem dó.
Vago, imenso, totalidade indefinida...
Maravilha encantada do mundo banal...
Apóia tudo...
o vácuo, o som, a cor... Tudo.
Desfilam nuvens desnudadas
frente aos olhares das faíscas prateadas.
Desfilam ao céu.
O céu é musica...
é arte...
...explosão silenciosa das faces inertes.
O céu e muito...
MUITO...

IV – pessoas na noite
Correm, falam, dançam,
abraçam, sobem, observam,
adentram obrigações,
beijam, apaixonam, exercitam,
sorriem, choram, poluem,
transam, destroem, matam,
misturam o mundo...
Tudo em total escuridão...
To-tal escuridão!
Admiro as pessoas por isso e
passo a compreender sua estupidez.

V – árvores na noite
Apagaram as luzes...
Apenas sei e sinto que as árvores estão ai...
Poesia ao pé do anoitecer é assim...

São Paulo, 22 de abril de 2004

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