E deitado, de vistas ao ar,
grandioso fonema, de laço misterioso,
soa intrépido nas constelações do pensamento:
seria mesmo a escuridão
tão transparente quanto a clara luz?
As portas da percepção
abrem-se todas ao relento dos dias todos,
e quando tudo muda
algo muda consigo,
feito pés agitados em topo de cachoeira.
O brilho prateado
ensangüenta-se e cai voluptuoso
na bacia materna do espaço lacustre
e segue adiante até que toda fagulha de terra agitada
volte-se, calma e terna,
ao chão do rio.
O festejo gracioso das folhas
inaugura novos segundos
agitados de calmaria bucólica
tendo diante de si
todo um arsenal de cores vegetais
e clarões que escorrem
por entre os galhos retorcidos das árvores,
gigantescas e dançantes.
A Natureza é mesmo um eterno improviso,
o mais perfeito deles.
O que toca todos os virgens oceanos
do profundo instante que guarda a alma.
Natureza distinta,
distraída e espontânea revela,
aos poucos,
o momento primeiro do mundo;
aquele de quase silencio na orla dos tocos,
das pétalas, das umidades
e rusticidades das pedras;
aquele de exigüidade leve
no balanço das águas
e canto dos pássaros,
momento de expansão das narinas
carregando para dentro do coração
a magia lúcida que umedece a alma,
feito algodão embebido
que se dilata e se desfaz de prazer.
Todos os tons,
distâncias,
clarões da Natureza
abastecem de vida os sentidos,
remexendo imagens na mente cálida.
Conchas, 5 de julho de 2004
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