Mundo indisponível e redutor. Sem ser visto pela multidão, sobrevivo só como é comum dentre a multidão excessiva que nada executa, mas é sublime, azul, irregular. Pronto. Já não há espaço para mim. Estou aqui e nada substitui a leveza, como opiniões que se formam corriqueiras sem sentido algum. Tudo na noite é ávido e sóbrio. Não há espaço para a loucura no mundo interior de quem sabe o que faz, mesmo que intraduzível. Volto sempre de meu jardim estrelado, pois não há delícia que substitua isso, nem nunca haverá. Como é doce a chance que rompe o vácuo infinito. Nada direi até me calarem como mente que gira transbordando e incompreendida de uma abstração elíptica e banal. Não direi nada a não ser que existo em formas inúmeras. Num grito ignóbil de atracar, respiro lívido a arte de meu ser, em vielas e caminhos neuronais. Ninguém responde ao soluço último da flexibilidade neuronal, mas a vida substitui tudo o quanto pesa e corrói até retornar ao inicio da mescla celestial e o ser em si convidasse para a festa dos deuses a natural seleção adultera. Sem mais, declaro-me louco num mundo sensível e cru até que me atinjam de frente e recorram ao pó para reverter minha condição. Mas tudo é nada, e valera a pena que não for pequena. Esforço desmazelado em atingir a estupidez. Tudo é estupidez e generalização. Até os que anotam enfileirados o que, em redemoinhos, foi dito. Quem há de notar? Selva suspensa e cinza no céu, feito nuvens em fins de tarde. A repetição cansa, mas é eterna. Não reclamem os sóbrios, tudo acalma no final da curva, como a lágrima que respinga no rosto inimigo. Corrosão de ódio é alma lívida. Quem precisa de professor? Ninguém responde. Deixo minhas mãos de lado, insensatas, trepidantes. Calo, recalo, renasço enquanto as flores desistem da vida. Mas que me importam as flores. São indiferentes ao meu louvor. Tão cálidos são os gestuais brutos dos seres inanimados. Linda Fênix intensa e ocupada como o fogo que arde e queima o mistério de um noturno apagado, até fingir ser a goela que engole novidades. Ninguém atende ao meu chamado puro de elevar a conversa ao pé da letra. Eis que surge um olhar e diz: um artista... Talvez deva falar sobre cerveja... não respondo olhar, por não ver olhar...minha tela deve ser o pensamento... então olhar deseja retirar-se num lapso de engano. Mas...meu desejo não é que olhar se retire. Meu desejo é que olhar se imponha manso e profundo. É o mais virtuoso que se pode ver...bem se diz que o artista tem alma transparente. Nem vejo a vitória como todo nascido da morte precoce. Nem exagero minhas sensações. Tudo é exato em todos. Gestos, pensamentos. Ser em excesso é ser sempre, como Wolf morreu em sua cruz afogada, devo reagir ao defunto que me congela feito água que resvala nas bordas dos chapéus. Você é retardado? Quando existo talvez. Sou surreal. Estou aqui para sentir a mescla ignota de tudo rompendo palavras incisivas retornando palavras. Sinto falta de olhar. Este percebe subjetividades relativas. Meu azul rompe o mar. Taxado de etc. retorno de novo, de novo, de novo e de novo como a música que nunca se quer parar de ouvir e que se cansa e se larga e se consome e se vive. Tudo quieto. No mais... Tudo vão. Frincha na noite inquieta que não funciona rapidamente, como há de ser, transbordando palavras até que se durma. Notas pelos ares... Lá menor, quarteto em dó. Mosca na tigela da praia espumante. Sal das trevas em asa de poesia. Nada digo demais, a não ser que somos e depois morremos. Incansavelmente transviado e lúdico. Sem condições. Poetas, súditos, jargões oblíquos invadem as perspectivas arredondadas das personalidades. Até que enfim posso sentir o fluir disso tudo. Pois não há verdade alguma aqui. Já de minhas costas ardem meus ossos lapidados pelo útero domesticado da natureza. Muita coisa e nada... Como o tempo. Invenção subterrânea de órgãos que andam sobre patas frágeis. Tantos rostos no escuro... Platão pode ter razão, desde que símbolos excedam em nome de que posso resgatar a limpeza das naturezas? Cegueira viva e morta dos sentidos aprisionados em telas de sombras mórbidas. Nada posso conter em meus pensamentos acelerados... mesmo que desconexos aparentemente. O fluxo das dianteiras laterais é adverso às palavras concretas e destiladas. Dilatar é a impressão mais comum em todos os iniciados. A solução é envaidecer a virilha. Bela bacia rasa de emoções picantes e infantis. Inocência que tinge as raízes lúcidas da parte lúgubre. Minhas costas dizem que devo parar... e meu monólogo me incide tanto, que já não reflito luzes. Que haja ar e água. Que haja fogo e terra. Tenho dito e ponto. Não. Reticências...
São Paulo, madrugada fria em 14 de maio de 2004
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