Pus meu sonho para pescar
em fio transparente de som e gume ácido.
Imerso na vazante,
aderiu sorridente ao movimento das pedras
e moitas dançantes.
Pupilas negras beliscaram seu teor iluminado
numa doçura vesga
que transforma a realidade
em ligas oculares.
Pude sentir as fisgadas do lado de fora
com as mãos distraídas de ilusão
e, por um momento,
alcancei a felicidade do instante eterno.
Remexi os miolos,
por entre as folhas e o barro,
até que meus ossos doessem macios.
Hipnotizado pelas ondas,
que se despediam até sumirem de ressaca aquática,
fitei o lodo azulado e detive-me.
De respiração firme
lancei os braços para trás
e recolhi o negro úmido
das conquistas gentis.
Remexia-se denso céu abaixo,
como a nevoa da noite ligeira
que tenta escapar das grades solares
e, por si só,
deixa impressões abestalhadas
nos semblantes boquiabertos.
Arrematei meu divino labor
apreciando por entre meus dedos
a pérola do dia até senti-la calma e tenra.
Num gesto lento,
atirei-a de volta ao fluido passageiro dos mundos.
Tudo que pude ver?
Plumas de pavão...
Emocionei-me. Tremi.
Recolhi meus destroços.
Acordei.
São Paulo, 10 de maio de 2004
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